05/04/2007

TRADIÇÕES, COSTUMES E FESTAS

A matança do porco na casa dos meus pais

Quando chegava o mês de Novembro, era altura de pensar em matar o porquinho, que em casa era criado para alimento da família durante o ano.
Chegado o dia começava a azáfama: seis horas da manhã e já toda a família estava a pé, havia que ter tudo em ordem porque o matador, Sr. António (Mascôto de apelido), não tardava nada a chegar.
O meu pai não gostava muito de ver matar, contudo e porque o porco pesava sempre mais de dez arrobas tinha de ajudar a segurá-lo uma vez que o animal até ser imobilizado fazia muita força e eram precisos sete a oito homens, normalmente recorríamos à ajuda dos vizinhos.
Morto o animal lá vinham os comentários do matador vitorioso: “foi como um tiro, e sangrou bem!” Entretanto a minha mãe, que mexia o sangue para não coagular, dizia: “vá passa a (tranca) e os figos secos a essa gente antes de começar a chamuscar”. E assim com palha de centeio que era acesa em pequenos molhos e batida contra o porco se chamuscava o animal até a pele ficar loirinha. Depois lavava-se com água quente e sabão, esfregando com uma pedra escolhida a jeito.
Após este trabalho, realizado no exterior, era altura de levar o porco para o interior da casa a fim de ser pendurado, aí tiravam-se as tripas que ainda quentes eram desfiadas para serem lavadas e raspadas num ribeiro de água limpa e corrente, depois eram postas em água sal e limão, de seguida eram cheias com carne, cebola picada e sangue dando origem às famosas: chouriças sanguinhas. Faziam-se também os saborosos salpicões, estes de carne mais nobre, cortada aos pedaços e posta em alguidares com vinho e especiarias durante dois dias.
O porco ficava pendurado durante vinte e quatro horas a fim de arrefecer a carne para poder ser salgada, pois era a maneira de então esta ser conservada durante o ano.
No fim destas tarefas era feito o sarrabulho que era um almoço melhorado onde normalmente se aproveitava para juntar a família. Todo este ritual era feito com muita alegria.
Havia agora que pensar em juntar dinheiro para comprar outro porco pequenino de modo a proceder ao mesmo ritual no ano seguinte.
Osvaldo Cruz
.
THE BUTCHERING OF THE PIG

By November, we had started thinking about slaughtering the pig, which had been reared for the purpose of feeding the family throughout the year.
The hectic atmosphere started very early in the morning. At half past six all the family members had already woken up and were prepared for the big event. They had everything ready for the butcher (slaying is very violent, usually reserved for murder, personally I wouldn’t use it for a butcher who was just doing his job) . Mr. António, nicknamed Mascôto, was about to come up!
My father didn’t like to watch the pig being slaughtered. However, he had to help the other men to seize the pig. The animal weighed more than 150 kg (about 300 pounds) and it resisted strongly till the moment it was immobilised. It took seven strong men to get hold of it. We usually asked our neighbours to help.
After the slaughter, the butcher boasted, ´It got it straight in the heart! And it bled nicely!’ Meanwhile, my mother who was stirring the blood so not to coagulate said, ´Come on! Bring the mug and serve these people with wine and dried figs, before they start singeing the pig!` They used bunches of rye straw which were lit first and then they fanned the pig with them to scorch the skin. They had to do this as many times as possible for the skin to shine. After this, they washed the pig with warm water and soap, rubbing its skin with a flat stone.
After the out-door procedures, they took the pig into the house to be hung. Firstly, they removed its guts, which were still warm and then these were emptied and cleaned. The guts were later taken to a sweet water creek. The women washed and scraped them. Then, these were immersed in water with salt and lemon for a while. Next, they’d be filled with meat, minced onion and blood. These ingredients produce the renowned blood sausages called Chouriças Sanguinhas.
Besides the so-called Chouriças Sanguinhas, we also used to make tasty pork sausage using fine meat cut into pieces and immersed in a bowl with wine and spices for two days.
The pork was left hung for twenty-four hours, so that the meat could cool. Finally, the meat was salted to be kept throughout the year.
After all these chores, the family would finally gather together for a nice lunch. We used to eat Sarrabulho (a typical Portuguese dish, a kind of heavy soup made with bread or rice, blood and pork meat cut in very small pieces). Everybody had a lot of fun sharing in this ritual.
Soon after this communal celebration, people used to start saving money to buy a piglet, so that this ritual could happen again the coming year.

Osvaldo Cruz

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo,a tua história retrata na realidade o que era a tradição da nossa infançia,é sem duvida o relembrar dos tempos passados, parabéns pela imaginação que tiveste.
Um abraço Manuel Soares

Anónimo disse...

Colega: a tua história da matança do porco lembrou - me tempos da minha infância, era como na minha casa se fazia, só que o matador era outro e eu é que fazia o que tua mãe fazia mecher o sangue, que era uma coisa pouco agradavél, mas alguem tinha que o fazer.Mas está muito bem elaborada, parabens. Um abraço da Zéza

Anónimo disse...

Amigo Osvaldo a história da matança do porco era de facto assim o que se passava, era uma coisa que eu também não gostava nada de assistir,era muito barbaro e cruel.Mas gostei muito que a contasses porque era assim mesmo o que se passava. Um abraço do teu amigo.

Manuel Gonçalves

paula cruz disse...

Pai, gostei muito de ler esta tua história.

Beijo, Paula