01/03/2007

25 DE ABRIL (IV)

Encontrava-me a trabalhar na Doca Eng. Duarte Pacheco na reparação do Navio/Bacalhoeiro “Rio Lima”, da Empresa de Pesca de Viana, quando por volta das 10,00 horas da manhã, quinta-feira 25 de Abril de 1974, deslocamo-nos ao Estaleiro Principal, para irmos buscar materiais e ferramentas. Passávamos junto ao quartel militar no Castelo de Santiago da Barra, e vimos os soldados sentados nas muralhas, a gesticular e a fazer uma grande algazarra. Depressa me apercebi que algo se passava.
Quando cheguei ao Estaleiro ao passar na porta, o guarda que estava de serviço disse-me que tinha ouvido no rádio que algo se estava a passar em Lisboa.
Então ao meio-dia, hora de almoço, já toda a gente sabia que estava em andamento um golpe de estado feito pelos militares. Durante a tarde fomos procurando saber mais do que realmente se passava, havia camaradas que na hora de almoço tinham ido a casa e trouxeram rádios de bolso, iam dizendo tudo o que a rádio ia transmitindo.
Um grupo de oficiais, denominado por Movimento das Forças Armadas, comandados pelo capitão Otelo Saraiva de Carvalho, tinha-se sublevado.
Os dias foram passando e o país foi consolidando a revolução, a tranquilidade começou a chegar. Começaram a surgir as primeiras alterações desde a criação do conselho de revolução e os governos provisórios. Começaram a decretar as nacionalizações das empresas chave do país. A empresa onde eu trabalhava também foi nacionalizada, e foi a partir daqui que foram criadas as comissões de trabalhadores que os representavam juntos das administrações, nomeadas pelo conselho de revolução. A partir daqui os trabalhadores começaram a ter outra consciência política, e começaram a reivindicar regalias que beneficiavam todos. Os nossos salários foram aumentados substancialmente, conquistamos regalias no campo da medicina do trabalho, equipamentos de segurança, assim como máquinas mais modernas para podermos laborar. No aspecto social também conseguimos diversas regalias, como as férias que passaram a ser de 22 dias úteis para todos. Com a conquista do 25 de Abril todos os trabalhadores viram as suas condições de vida melhorar substancialmente.
Também a partir do 25 de Abril se começou a poder falar livremente e a criticar os governos, já que antes tínhamos a polícia politica (P.I.D.E.) à perna pois não se podia censurar o governo. Outra das grandes conquistas do 25 de Abril foi acabar com a Guerra Colonial.
Assim vivi eu o 25 de Abril.

João Branco

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