03/03/2007

HISTÓRIA DA MINHA VIDA: INFÂNCIA

Eu passei a minha infância em casa de meus avós paternos. Em 1964 tinha eu então seis anos, a minha vida era passada entre a escola da Avenida e o porto de pesca de Viana do Castelo, nos tempos livres os rapazes juntavam-se aos magotes como se fossem bandos de gaivotas no cais. No campo D' Agonia jogávamos ao pião, a bola, ao prego, a bilharda, a bandeirinha, ao piro-galo, a forma com botões, fazíamos a corrida da volta a Portugal com caricas das gasosas, corridas de carros de madeira com rodas de rolamentos, brincávamos aos índios, aos polícias e ladrões, éramos muitos rapazes, a maioria andávamos descalços e as calças mostravam remendos nos joelhos e no rabo, ao fim da tarde não era raro ouvir os pais ou os avós chamarem os filhos ou os netos oh João, oh Zé, oh Tone, oh Pedro, oh Manel meu vadio, meu terrorista em casa vou-te desancar, meu corrécio meu estupor, mas no fim acabava por ir parar dentro da bacia de zinco para levar uma ensaboadela pois a maioria dos rapazes chegavam a casa cobertos de pó ou de lama conforme o estado do tempo. Algumas vezes no verão íamos nadar para a banda de fora que ficava na foz do rio Lima, nadávamos quase todos nus e não raras vezes o polícia do mar apanhava-nos as roupas! Era de rir ver os rapazes todos em plote a tentarem esconderem-se entre as pedras do rio, todos que assistiam riam-se e gozavam a cena, por fim o polícia do mar entregava as roupas aos rapazes na presença dos pais ou dos avós depois lá vinha mais um sermão de civismo com umas lambadas a mistura. Neste ambiente fui crescendo, começando a gostar do cais, dos barcos, da pesca, o mar fascinou-me com seus mistérios e seu cheiro a maresia levando-me a todo o Mundo.

Manuel Barros Lomba

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