01/03/2007

ANTES E DEPOIS DO 25 DE ABRIL

Em 1947 fui trabalhar para os Estaleiros Navais, de Viana do Castelo como aprendiz de electricista. Em 1962 era eu oficial especializado, ganhava-se muito pouco, estava casado, tinha então dois filhos; uma rapariga e um rapaz, de 5 e 2 anos. Porque não fazia horas extras, mandaram vir a “Pide”. Queria dizer polícia de investigação e defesa do Estado, veio do Porto, eu e um colega fomos interrogados por dois inspectores da polícia do Estado e levados para o Porto. Estivemos 8 dias presos, eu fiquei junto com outros presos, tinham sido torturados para denunciarem os passadores, viam-se as marcas no corpo. Eles foram presos quando iam a atravessar a fronteira, para imigrar para França. O colega que foi comigo teve pior sorte, depois de interrogado meteram-no na solitária, só o tornei a ver quando saímos, abanaram muito com ele. Eu tive mais sorte, depois de muitas interrogações, durante vários dias, como não encontraram nada de grave mandaram-nos embora.
Minha esposa sofreu muito, sofria do coração e mais tarde morreu. Eu fiquei marcado no trabalho por causa disso, alem de ser dos mais antigos da secção era dos melhores operários. Quando era Chefe de Equipa vi passar outros colegas, a encarregados com menos qualidades do que eu, custou-me muito.
Em 1974, a vinte e cinco de Abril, houve uma revolução, que derrubou o governo de ditadura, de 48 anos.
Nesse dia estava a trabalhar em Aveiro, com alguns operários numa alteração, no navio da pesca do bacalhau Santa Isabel, tinha sido chefiado por mim na construção. Passamos 3 dias sem fazer nada! Era uma alegria na rua, as pessoas depois de 48 anos amordaçados com uma ditadura, ficaram extasiadas!
Foi preciso vir o vinte e cinco de Abril, para me darem o valor que merecia porque até ali estava difícil. Em 1975 passei a Técnico Fabril, 2 anos depois Técnico Industrial. Em 1988 tinha eu 57 anos, reformei por invalidez.

Manuel Gonçalves

2 comentários:

Anónimo disse...

bem para comessar da para conpreender o ke se passou com a sua vida mas gostava de saber mais a respeito de diferenças antes, durante e depoix do Dia D, falta muitas coisas em história e ainda não encontrei algo expecifico que me diga as diferças depois do dia D ..........

Rafael Fernandes disse...

Gostaria de agradecer por partilhar a sua história connosco. É muito interessante. Eu nasci em 1988 e não consigo imaginar sequer qual terá sido a sensação da revolução do 25 de Abril. É importante para mim ouvir a opinião daqueles que realmente passaram por essa experiência.