05/03/2007

HISTÓRIA DA MINHA VIDA (III)

O meu nome é João Branco, nasci na freguesia de Santa Maria Maior, concelho de Viana do Castelo, fiz os meus estudos preparatórios e frequentei o curso de Serralheiro Mecânico, que não cheguei acabar.
Aos 16 anos fui fazer, exame psicotécnico aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, entrei nesta empresa no dia 1 de Outubro de 1966, como aprendiz de serralheiro mecânico, e fui trabalhar no serviço de mecânica de bordo. O primeiro barco em que trabalhei era um barco que estava na Doca Comercial a descarregar sal para a Empresa João Alves Cerqueira, este barco depois de reparado saiu rumo ao Algarve, por altura da costa Vicentina debaixo de forte nevoeiro, naufragou mas a tripulação foi toda salva.
Depois estive a trabalhar na construção de um navio para a nossa Marinha de Guerra, Fragata Escoltador Oceânico “Almirante Magalhães Correia”, neste navio trabalhei dois anos. Todas as válvulas que o navio levou passaram pelas minhas mãos pois como eu tinha uma letra bonita depois de testadas e aprovadas pelos fiscais da marinha eu, a tinta, escrevia o numero da válvula e dava baixa da mesma.
Aos 20 anos ingressei na vida militar, começando a minha odisseia na tropa.
No dia 20 de Julho de 1970, ingressei no Regimento de Infantaria 7, em Leiria depois da apresentação e de termos dado as vacinas somos levados, para uma arrecadação aonde nos são distribuídas as diversas fardas e botas, todo este material era distribuído aleatoriamente, e depois nós tínhamos que trocar uns com os outros de modo a conseguir os tamanhos adequados. Surpreendido, vejo que a roupa que me foi atribuída não me servia, dirigi-me então à arrecadação para solucionar o problema, mas a resposta que me deram foi me desenrascasse. Regresso à caserna, ouço o toque do jantar, como a roupa não me servia quando chego à parada para formar o oficial de dia dirige-se a mim e pergunta-me se ainda não tivera tido tempo para me fardar, eu respondi-lhe que a roupa não me servia, ele começou a rir-se e disse-me para ir à arrecadação e trocar de roupa, e que não aparecesse novamente vestido à civil. Percebi bem o que ele dissera, mas tive de lhe contar o que havia acontecido, que já tinha ido à arrecadação, mas que não havia roupa que me servisse.
Solução surpreendente, a partir daí nunca mais quiseram saber, embora eu fosse reclamando dizendo-lhes que estava a dar cabo da minha roupa, e que não podia ser, disseram-me que iam estudar o assunto, o certo é que o tempo foi passando e eles não resolveram nada, mas também fiz valer a minha posição, não tinha formaturas, vinha ao fim-de-semana à civil, quando íamos dar tiro para carreira de tiro que ficava a 10Km do quartel eu ia de camião, havia certos exercícios que não realizava, etc. Quando aparecia o Director de Instrução cuja patente era Brigadeiro, mandavam-me esconder para que ele não me visse.
Acabei a recruta no fim de Setembro de 1970, depois de ter jurado bandeira, e farda nem vê-la. Fui avisado que ia tirar a especialidade de operador de radar de Artilharia Antiaérea na RAAF (Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa) em Queluz.
Saí de Leiria com guias de marcha para me apresentar no quartel em Queluz, uma vez chegado ao novo quartel, perguntaram-me porque ia vestido à civil, então eu disse que no quartel em Leiria não tinham farda para mim e que não me resolveram o problema, no dia seguinte comecei a instrução e as aulas da especialidade que ia tirar, quando chegou altura das formaturas eu apresentei-me na parada com a roupa que tinha, para meu espanto começam a chamar-me guarda-fiscal (a minha roupa era cinzenta, parecida com as dos guardas-fiscais), a partir daí o meu comandante de Pelotão disse-me que iam resolver o assunto, o tempo foi passando e farda nem vê-la, acabei a especialidade em Dezembro.
Fui colocado noutro quartel CIAAC (Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e de Costa) que ficava em Cascais. Quando me apresentei, na segunda-feira, e quando tocou para formar apresentei-me na parada, nessa altura estava a entrar o comandante e vendo um civil, na formatura, disse ao oficial de dia, que me mandasse ir ter com ele, assim foi, chegado ao gabinete dele, ele perguntou-me porque não estava fardado, então eu disse-lhe que não tinha porque pelas unidades por onde tinha passado não tinham farda que me servisse, então mandou chamar o sargento responsável pelo fardamento e perguntou-lhe se tinha farda para mim, porque caso não houvesse teria de ir ao Casão Militar para me fazerem uma farda. Foi o que aconteceu, fomos a Lisboa ao Casão Militar, tiraram-se as medidas e passada uma semana chegou a bendita e assim estive 3 anos no exército.

João Branco

1 comentário:

Manuel Paula disse...

Manuel Paula disse...
Grande João Branco! Conheci-te pela fotografia é incontornável. Sou o ex-soldado Manuel Paula e estive no CIAAC entre Outubro de 1971 a Maio de 1974.Certamente que não te vais lembrar de mim(éramos tantos), mas posso garantir-te que nos encontrámos várias vezes e falámos, nomeadamente, quando estávamos de serviço. Recordo-me que uma vez, questionei-te quanto à tua profissão e disseste-me com orgulho, que eras operário e nessa altura ainda antes do 25 de Abril" achei-te uma pessoa politicamente bem esclarecida( grande consciência de classe) e fiquei muito sensibilizado por isso. Passados mais de 40 anos, ainda me lembro desse pormenor.

Achei uma graça enorme a tua estória da farda! Deliciei-me! "O Comandante mandou-te falar com ele" presumo que já era o Ten-coronel Aristides Pinheiro? O 2ª comandante era o Major Rubi Marques. O Sargento que tratava das fardas era o nosso amigo Seixas? Depois acabaste por ir ao Casão Militar de Santa Clara( que fica a poucos metros do local onde nasci).

Foi um privilégio enorme, poder contactar um antigo camarada, mesmo sendo desta forma!

Deixo-te aqui,um forte abraço.
Muita saúde é o que nós precisamos na nossa idade. Até sempre.....
Manuel Paula

21/4/17 16:12