02/03/2007

Gente rica é outra coisa!!!

A primavera de 1969 acabava de entrar. Era ainda Março, quando numa manhã de sexta-feira, esperava na estação de Campolide, em Lisboa, pelo comboio que me havia de levar até ao Porto e daí até Vila Real, para mais um fim de semana dos muitos que tive na vida militar.
No cais, entre muitas outras pessoas, chamou-me à atenção, a presença de um cavalheiro, com pouco mais de meia-idade, impecavelmente vestido, envergando um fato cinzento claro, camisa branca e gravata, chapéu de felpo e sapatos pretos de verniz. Segurava na não direita uma pasta de executivo, em cabedal de cor preta.
Até aí tudo normal, pensava eu. Apenas o comboio parecia nunca mais chegar. Era também notório algum bulício, próprio de uma gare de embarque.
Mas bem me enganei!!!
O homem bem vestido, por momentos, desapareceu do meu campo de visão, para logo aparecer, mas acompanhado por um Polícia. Era um Guarda da Polícia Municipal, um homem enorme, para mais de 100 quilos de peso, bem ataviado, exibindo um farto bigode. Ambos gesticulavam de forma expressiva.
Por estar tão perto, não pude evitar ouvir o que ambos diziam um ao outro, e perceber as palavras com que o policial se dirigia ao homem bem vestido.
O cavalheiro não tem vergonha? Com essa idade, já devia saber, que fazer chichi no meio dos arbustos é infracção muito grave, um atentado à moral pública e aos bons costumes. De mais a mais, tendo a retrete ali tão perto. É imperdoável, repetia o Polícia.
O homem bem vestido, meio atarantado e algo envergonhado, tentava desculpar-se, dizendo que estava muito aflito e, sendo a retrete ainda bastante longe, podia perder o comboio, para o Porto, onde ia resolver importantes negócios da sua empresa.
O guarda, nem sequer lhe deu ouvidos e com autoridade, ordenou, que o acompanhasse até a Esquadra, para que o chefe decidisse o que fazer perante tão grave situação.
Bem tentou o infractor convencer o policial de que tinha agido sem pensar que a sua atitude poderia ter tão graves consequências. Mas em vão. O defensor da Lei, não abdicava da sua autoridade, e insistia, cada vez com mais veemência, que o acompanhasse até à Esquadra.
Foi então, que o homem bem vestido, manifestando alguma perplexidade e muito agastado com o que lhe estava a acontecer, se virou para o Polícia, e disse em tom desafiador:
- Por acaso o senhor sabe quem eu sou?
- Não sei, nem quero saber. Para mim os cidadãos são todos iguais e a lei é igual para todos. Acompanhe-me, e não pense que sou um qualquer!!!
- Mas já agora diga lá quem é que você é, para ver se eu o conheço. Às tantas não passa de um alfacinha de meia tigela e desses está o mundo cheio.
- Ó senhor Guarda, nada de importante, apenas sou o Accionista maioritário de uma grande empresa ali da margem Sul. Aquela dos sabões, das alcatifas dos adubos, dos navios, dos... não sei se já ouviu falar.
- Eh espere aí, meu caro senhor, - disse o policial, com ar de quem já meteu o pé na argola e está a ver a vida a andar para trás.
- Você está a dizer-me que é o dono da C U F do Barreiro? Daquele grande empório?
- Isso mesmo, o que o senhor ouviu.
O guarda baixou os olhos para o chão, tirou o boné, e coçando a cabeça, foi dizendo ao senhor bem vestido:
- Muito obrigado meu caro senhor, muito obrigado!!! Nem sei como lhe agradecer tanta bondade da sua parte.
- Não estou a entender. Você está a agradecer-me, porquê? - Perguntou o homem bem vestido um tanto intrigado.
O Guarda, curvando-se para a frente, com as mãos atrás das costas, em sinal de respeito, respondeu: - O senhor acabou de salvar a minha carreira e até o pão dos meus 6 filhos e confesso que não sei como agradecer-lhe.
- Mas porquê homem de Deus? Porque me quer agradecer? Explique-se rápido, que o comboio está a chegar.
O Guarda, cada vez mais cabisbaixo, foi dizendo com voz trémula: - Vossa Senhoria tem ideia do que me podia acontecer se eu o levasse à presença do chefe?
- Não, mas diga lá. Desembuche e não me faça perder mais tempo.
- Pois é meu caro senhor. O chefe quando visse a sua identificação, e confirmasse que pertence à classe muito rica deste País, dizia logo, com voz ameaçadora, que quem estava a mijar contra os arbustos era eu!!!

Octávio Pires

1 comentário:

Anónimo disse...

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